Ana Paula Lourenço, fundadora do PyLadies Fortaleza

Ana Paula Lourenço é uma estudante de Rede de Computadores que fundou o grupo PyLadies Fortaleza e também é organizadora do evento ByteGirl.

Vamos saber mais sobre sua história com o Livecoding.tv.

Quando você descobriu código e programação? Você, desde cedo, teve a curiosidade de saber como
um computador funcionava?

Eu descobri código e programação quando era adolescente. Eu saí de um colégio público e fui para um colégio particular. Eu estava na quinta ou na sexta série e o colégio tinha um laboratório de informática. Eu tinha aula de informática uma vez por semana, mas eu era fascinada pelos computadores e eu queria saber o que havia por trás deles. Aos sábados, eu agendava aulas de reforço no laboratório. Eu não tinha computador em casa, então eu ia aos sábados no colégio só para aprender computação.

Quais foram as primeiras linguagens que você aprendeu? Teve alguma dificuldade? O que foi mais difícil?

Nessa época do colégio, havia nada sobre computação. Só víamos o Paint e outros programas básicos. A primeira linguagem que eu vi foi o HTML para criação de sites. E comecei a estudar por conta própria. Peguei algumas apostilas e pesquisava na internet sobre HTML. Eu não tive dificuldades na parte simples do código, mas, para fazer algo mais dinâmico com CSS era mais complicado.

O que é necessário para ser um bom programador?

Para começar, eu não me considero uma programadora. Eu sou uma pessoa que gosta muito de descobrir coisas. Os bons programadores são autodidatas. Eles precisam estar sempre antenados com as novas tecnologias e novas linguagens. Meu primeiro contato foi com a linguagem computacional HTML, mas também aprendi C e C++. Gostei mais do C++ do que do C. Hoje, eu estudo mais Python. É preciso ser muito versátil nesse sentido. O importante é gostar de aprender.

Quando você manifestou sua vontade de aprender computação, o que seus familiares e amigos acharam?

Meus pais não são formados. Meus pais não concluíram nem o ensino fundamental, mas eles sempre batalharam para que a gente terminasse os estudos. Para eles, concluir o ensino médio e arranjar um emprego já estava de boa, mas essa não era a minha visão. Eu demorei muito para entrar na faculdade. Eu comecei fazendo cursos profissionalizantes. A faculdade ensina mais a teoria e eu gosto mais da prática. Meus pais me incentivaram a fazer os cursos profissionalizantes. Eles não tinham como pagar. Todos os cursos de informática que eu fiz eram gratuitos. Eram cursos de ONGs, da prefeitura. Eles nunca se opuseram.

Eu fui para a faculdade para estudar Redes de Computadores. Meus pais não sabem o que isso significa, mas eles me apoiam e se eu falto alguma aula, eles sempre perguntam o motivo. Das três filhas dos meus pais, uma já é pós-graduada. Eu estou terminando a graduação. Eu quero ser professora e irei ingressar no mestrado depois da graduação.

Meus pais não conhecem a área de tecnologia, mas sabem que podem recorrer a mim para resolver algum problema com o celular.

Nas suas turmas da faculdade, é muito grande a diferença entre o número de alunos e alunas?

Eu iniciei no primeiro semestre de 2014 a faculdade de Redes de Computadores pela Estácio, em Fortaleza. Dos 60 alunos, 7 eram mulheres. Dessas 7, só 5 iam para as aulas. Eu não sei dizer quantas finalizaram o semestre, mas acho que só 4 finalizaram. No semestre seguinte, eu passei para o turno da noite. Aí, eram 4 mulheres numa turma de 60 alunos. A diferença entre homens e mulheres era muito grande. Isso é muito comum nos cursos de tecnologia.

Você já sofreu alguma forma explícita de preconceito por colegas de turma ou de profissão por ser mulher?  

Na faculdade, nunca passei por uma situação explicita de preconceito. Às vezes, a gente acaba não percebendo o preconceito. O preconceito é muito velado. Eu era líder das turmas pelas quais eu passei. Pela minha postura, eu acabava impondo respeito. Na faculdade em si, eu não percebia o preconceito explícito. No mercado de trabalho, eu percebi algumas questões. Como meus chefes eram homens, eles não me davam determinados trabalhos por eu ser mulher. Não era algo explícito, mas, nas entrelinhas, você sabia que tinha alguma coisa. Sempre acontecia de os homens tentarem abafar a fala das mulheres. Isso me revolta demais. Isso acontecia comigo no mercado de trabalho.

Como você ficou sabendo das PyLadies? Como surgiu o interesse de evangelizar a programação para outras mulheres?

Fiquei sabendo das PyLadies através de um amigo meu do hackerspace de Fortaleza, o FullHacker. Eu pesquisei no Facebook sobre as Pyladies e encontrei o grupo de Natal, que foi o grupo que iniciou as PyLadies no Brasil. Elas me orientaram a começar um grupo aqui, em Fortaleza. Eu iniciei o grupo fazendo uma palestra no encontro do PUG-CE, uma “Pylestra”. Começamos com cinco meninas. O grupo de Fortaleza focou muito em ações sociais para ensinar Python para a população com cursos gratuitos. Em 2015, tínhamos três turmas de Python.

Depois disso, organizamos um evento em Fortaleza que se chama ByteGirl em outubro de 2015. Foi um sucesso. Este evento é mais abrangente, não envolve só Python ou só programação. O ByteGirl envolve todas as áreas. O ByteGirl se tornou uma iniciativa muito positiva. Tivemos mais de 200 participantes e 86% de mulheres. Nesta área profissional, somos apenas 30%. Foi fenomenal.

Aliás, Python é a sua linguagem de programação favorita?

Sim, Python é, hoje, minha linguagem de programação favorita, mas, como eu disse anteriormente, o bom programador tem que estar atento ao mercado e sempre aprender coisas novas. Eu tenho interesse em aprender Lua também. Uma das meninas do ByteGirl é membro da comunidade Lua do Ceará e já fez alguns jogos.

Você percebe o impacto das ações afirmativas não apenas das comunidades Pyladies como também de outros grupos que buscam incluir mais mulheres à programação? Você vê que o número de mulheres começou a aumentar?

Eu acho que é muito importante que grupos de mulheres tentem sempre incluir mais mulheres na área da tecnologia. Isso não significa apenas criar um evento ou encontros e deixar essas meninas ao léu. Essa, pelo menos não é a ideia que temos aqui. Fazemos o ByteGirl uma vez por ano, mas a gente tenta estar durante o ano com essas meninas. Esse é o nosso objetivo com o ByteGirl, por exemplo. Eu acho que essas ações são muito importantes. É preciso estar perto dessas mulheres, entender como elas se sentem para poder orientá-las da melhor forma possível. Tem que ser uma ação contínua.

Eu iniciei o PyLadies Fortaleza e o ByteGirl no ano passado. Só agora é que eu poderei fazer um balanço, mas já percebo que houve um aumento significativo. A primeira vez que uma mulher palestrou no Pylestras foi na minha edição, em maio do ano passado, e só havia 3 meninas na sala. As edições seguintes das Pylestras tinham mais mulheres comparecendo. Isso é muito significativo para um encontro onde só iam homens.

Vamos ver no ByteGirl deste ano o crescimento. Estamos prospectando um evento para cerca de 500 pessoas.

Para você, como o ensino de programação pode mudar o mundo em sua volta?

Eu sou da área de infra-estrutura, não sou da área de desenvolvimento. Por isso, não me considero uma programadora, mas eu acho muito importante que o ensino de programação seja mais efetivo. Eu acredito que as escolas deveriam ensinar programação. A programação ensina a pensar de forma mais lógica. Você consegue entender mais e tomar decisões baseadas em fatos. Não acho que a lógica deva ser algo só das exatas. O ensino de programação deveria ser inserido em qualquer área, até mesmo de humanas.

Qual mensagem você tem para os estudantes que escolherem programação e código como profissão?

Não importa a área que você escolheu, o mais importante é sentir prazer no que você faz porque, consequentemente, você vai se dedicar e fazer um bom trabalho. Então, não faça seu trabalho desmotivado, isso . A partir do momento que você não está mais gostando do seu trabalho, procure uma nova forma de se desafiar. O resto é consequência. Dinheiro é consequência de um trabalho bem executado.

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Para conhecer as histórias de outros programadores brasileiros, fique ligado nas atualizações do blog do Livecoding.tv.

Se quiser assistir ao desenvolvimento de projetos de programadores brasileiros, confira estes vídeos.

Leia também:

Charleston Anjos, criador da rede social Plookr

Dr. Michael J. Garbade

I, Dr. Michael J. Garbade is the co-founder of the Education Ecosystem (aka LiveEdu), ex-Amazon, GE, Rebate Networks, Y-combinator. Python, Django, and DevOps Engineer. Serial Entrepreneur. Experienced in raising venture funding. I speak English and German as mother tongues. I have a Masters in Business Administration and Physics, and a Ph.D. in Venture Capital Financing. Currently, I am the Project Lead on the community project -Nationalcoronalvirus Hotline I write subject matter expert technical and business articles in leading blogs like Opensource.com, Dzone.com, Cybrary, Businessinsider, Entrepreneur.com, TechinAsia, Coindesk, and Cointelegraph. I am a frequent speaker and panelist at tech and blockchain conferences around the globe. I serve as a start-up mentor at Axel Springer Accelerator, NY Edtech Accelerator, Seedstars, and Learnlaunch Accelerator. I love hackathons and often serve as a technical judge on hackathon panels.

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